“Quando visto vira rio, se reinventa a cada momento, nasce, derrama e morre, são tantos em um. Já foi meu, já foi seu, agora voltou para mim. Um avesso de desavessos."
Isabela Etchenique
“Supostas Cartografias Líquidas”
Isabela Etchenique é uma artista movida por uma força interna que a impulsiona enxergar para além das superfícies físicas e relevos sociais que formam as grandes cidades, e em especial São Paulo, onde vive e nutre sua pesquisa política, poética e estética, materializada em obras singulares que a exposição acolhida pela Arte 57 apresenta ao público.
Detentora de um amplo vocabulário e domínio técnico, a artista compõe seu universo visual exercitando intersecções com elementos da arquitetura, geografia, topografia, cartografia e hidrografia, e entende os rios como uma parte vital da vida urbana, que gera tensão entre rigidez e fluidez, permanência e efemeridade.
A cartografia líquida descreve as transformações nos espaços sociais e nas relações humanas em um mundo cada vez mais globalizado. Os supostos cenários de um não lugar surgem nas obras da artista no momento em que Isabela ressignifica as figuras de suas formas originais; apresentando uma possibilidade de expressão e investigação. Ela explora a maneira como as fronteiras físicas e simbólicas estão mudando e como estão modificando a forma como vivenciamos os espaços, e faz um paralelo visual com os fenômenos gráficos gerados pela intervenção do Homem no desenho dos rios que tecem a cidade hoje.
Muito me agrada, identificar que as obras produzidas são sustentadas por elaboradas pesquisas, que podem ajudar a criar novos tipos de propostas para outros artistas usarem a cartografia para mapear comunidades e redes informais. Ou para criar espaços temporários onde as pessoas possam se encontrar e se conectar. Esses espaços podem ajudar a fomentar novas formas de comunicação e colaboração social.
Em resumo, a arte de Isabela Etchenique e as supostas cartografias líquidas podem se complementar e se influenciar mutuamente, permitindo que artistas e observadores explorem e compreendam as complexas transformações no espaço e nas relações humanas em um mundo cada vez mais conectado e fluido.
Roberto Bertani